24 meses
Completei dois anos de Newsletter com essa edição. São 24 textos diferentes acompanhados de uma quantia variada de recomendações de textos escritos e multimídia, que no final equivaleram a um total de 82 recomendações. Na edição de aniversário do ano passado, fiz uma análise das métricas disponíveis para minhas publicações daqueles 12 primeiros meses. Mantendo a tradição, vou fazer a mesma análise dos últimos doze meses com essa edição para que possamos ver se algo mudou, comentar possíveis curiosidades, produzir uma espécie de cápsula do tempo desse último ano e enviar para um planeta distante.
Mais uma vez, vou unir as métricas de duas plataformas diferentes em que disponibilizo minha Newsletter. No entanto, entre a edição do ano passado e a desse ano, a plataforma de divulgação Tinyletter, em que hospedava “Palavras de Dissidente”, foi descontinuada e, por essa razão, tive que migrar minha Newsletter para a plataforma Substack. Essa transição aconteceu entre a 15° e a 16° edição, o que fez com que eu perdesse as métricas das três primeiras edições desse período de doze meses. A segunda plataforma, Medium, permaneceu inalterada.
Iniciando a análise pelos dados fornecidos pelo Medium, todos os textos que disponibilizei nesse último ano na plataforma obtiveram pelo menos dez visualizações (!!!) e, com a exceção de uma única edição, todos obtiveram um parâmetro de ao menos oito leituras por edição. Assim, são em torno de 120 visualizações e 96 leituras! Ignorando a edição outlier do período, que para sanar uma possível curiosidade foi Catástrofes Evitáveis, a taxa de leituras por visualização de todas as edições estiveram acima de 60%. Tiro dessas informações que, apesar de meu “público-alvo”/comunidade leitora ser pequena e composta majoritariamente por pessoas próximas, essas pessoas são uma comunidade fiel e engajada com o que escrevo. São verdadeiros leitores: pessoas que se propõem a parar o que estiverem fazendo em seus dias para destinar um pouco de seu tempo à leitura do que escrevo.
Como mencionado acima, a análise dos dados do Substack é mais complexa e, para me facilitar, vou considerar os dados dos três primeiros meses que foram perdidos como representável por meio de uma média das métricas da 15°, 17° e 18° edições. A razão pela qual decidi ignorar a 16° edição é simples: como foi a edição em que oficializei minha mudança de plataforma, ela é até hoje minha edição com maior número de visualizações no Substack, sendo acompanhada de perto pela 18° edição. Por isso, decidi que ignorá-la e considerar a 18° edição poderia ser mais fiel à uma simulação das métricas perdidas com a mudança de hospedagem. Assim, considerei que as três primeiras edições devem ter tido uma média de 31 visualizações, o que ainda considero uma métrica um tanto otimista, porém é o mais próximo de uma análise lógica que fui capaz de convencionar. Isso coloca o total de visualizações de minha Newsletter pelo e-mail em INCRÍVEIS 339 visualizações.
Obviamente, esse número está muito acima de um engajamento genuíno dos meus leitores com os textos que publico. Em uma métrica disponibilizada pela Substack direcionada a engajamento, a média de engajamento que possuo por publicação equivale a 18%. Esse engajamento, no entanto, condiz à cliques e interações com minha publicação, diferentemente da métrica leitura do Medium que corresponde a quantas visualizações foram até o final da página e quanto tempo levaram na leitura do texto. Dentre essa métrica de visualizações também estão os cliques repetidos. Ou seja, se um assinante da minha Newsletter abriu o e-mail mais de uma vez, é considerado como mais de uma visualização. Dessa especificação esclareço que o número apresentado é bastante inflado, com algumas edições tendo três aberturas do e-mail por uma única pessoa. Como especifiquei, também, na minha última análise de métricas, os dados do e-mail são mais dificilmente traduzidos em um engajamento real com o texto, pois abrir um e-mail não equivale a ler um e-mail.
Por fim, a última métrica que considero para essa análise são os assinantes/seguidores que tenho tanto pelo Substack quanto pela plataforma do Medium. Hoje, tenho 28 assinantes pelo Substack, 7 assinantes a mais do que tinha no ano passado. Pelo Medium, não considerei ano passado os seguidores que tinha pela plataforma, porque isso não se traduzia em eles terem qualquer contato direto com o que eu publicava, pois essas contas poderiam ser facilmente abandonadas e o status de seguidor ser apenas uma gentileza. Hoje, tenho 17 seguidores aqui na plataforma. Dentre esses seguidores, há pessoas que não possuem mais qualquer forma de contato comigo, pessoas que nem devem se recordar que ainda me seguem por aqui, mas que ainda assim gostaria de agradecer pela gentileza.
Portanto, apesar de superficialmente os dados do Substack parecerem mais otimistas, são as métricas do Medium que me deixaram muito, muito feliz dessa vez. Pensar que para cada edição que escrevo há em média 10 pessoas fielmente lendo o que tenho a dizer me faz lembrar que, nos primeiros seis meses, minha média era de 5 pessoas. Ainda que esse número não tenha tido um crescimento expressivo, elas ainda estão ali e eu, também, sigo escrevendo. Até o próximo ano!
Minha primeira recomendação para esse mês é a entrevista do médico infectologista brasileiro Ricardo Sobhie Diaz para o jornal português Fumaça. Responsável pelo estudo com o único paciente no mundo a ter o vírus HIV eliminado de seu corpo por meio da combinação de medicamentos, Ricardo Diaz detalha sua experiência nos últimos 40 anos com o tratamento das pessoas soropositivas e os desafios do estigma da soropositividade e com a depravação e a morte e as esperanças para a erradicação da doença.
A recomendação seguinte é um vídeo-ensaio de Alisha not Alihsha sobre cultura de consumo de livros pela plataforma digital Tiktok e a aversão dessa comunidade à crítica de obras literárias. A ensaísta levanta diversos argumentos dos quais desejava ter pensado antes, visto que sou um grande hater de muitas coisas, para especificar como a crítica cultural e literária é saudável e responsável por um ambiente contrário à ignorância e a restrição intelectual. Uma parte significativa de tudo que escrevo tem por consequência a desconstrução, a destruição de consensos e de sensos comuns, por isso vejo uma necessidadem, além de tudo pessoal, para que o espaço da crítica seja respeitado, mesmo que questionado. A crítica busca questionar para produzir novos questionamentos, não fabricar novas formas de consenso. Traduzo um dos meus trechos favoritos a seguir:
“Essa generalização excessiva de que ‘toda forma de análise é tediosa’ leva a uma visão negativa da crítica, o completo oposto do que nossos professores desejavam instigar em nós. Dizer para ‘deixar as pessoas curtirem as coisas em paz’ implica também em dizer que você não quer pensar sobre o que você está digerindo, o que implica que você sabe que está consumindo algo ruim, e que há pontos de crítica válidos, mas você escolhe ignorá-los. Antintelectualismo é um privilégio, a ignorância é um privilégio”.
Minha última recomendação desse mês com a recomendação de uma resenha do que deverá ser meu filme favorito lançado esse ano. I Saw The TV Glow de Jane Schoenbrun é uma das experiências mais revoltantemente tristes que já me submeti e é uma obra mestre na subversão da jornada de um herói. Compactuo com vários dos pontos levantados na resenha de Peter Bradshaw sobre sua força criativa e execução impecável. Para além disso tudo, o longa ainda possui uma trilha sonora incrível que se sustenta para além do seu universo ao mesmo tempo que o completa perfeitamente.
Por fim, estendo esse parágrafo para direcionar um agradecimento a todos vocês, pessoas que lêem, leram ou ainda vão ler algo que escrevi nesses últimos dois anos e pelos anos que ainda estão por vir. Por mais estranho que isso pareça, eu me sinto vivo por meio do que escrevo, tão vivo quanto nos momentos que compartilho em presença física. Tudo que escrevo sou eu, é uma reconfiguração de como eu penso, de como sinto e desbravo o mundo ao meu redor, desde sempre. Por isso, numa fase da humanidade em que tudo é sobre atenção, tudo é sobre tempo, dedicar alguns segundos que seja para processar alguns símbolos que encadeio nessa tela é muito, muito carinho mesmo. Sempre serei grato.
Recomendações
Ricardo Sobhie Diaz sobre VIH/SIDA — HIV/AIDS por Equipe Jornal Fumaça
booktok, brainrot, and why it’s okay to be a hater por Alisha not Alihsha
I Saw the TV Glow review — 90s telly-addict chiller set to be future classic por Peter Bradshaw
Esse texto é a 24° edição da minha Newsletter “Palavras de dissidente”. Você pode assiná-la pelo link: https://filipenarciso.substack.com/